De quem é a responsabilidade por tantos cenários arrasados?
Poderia propor aqui um debate religioso sobre todas essas tragédias ocorridas no Brasil neste 2019. Mas, me limitarei à razão material que, por si só, explica mais que qualquer doutrina. Exceto os acidentes de avião e de trânsito, todas foram previstas.
As barragens, por exemplo. Em 25 de janeiro de 2019, voltamos ao dissabor de assistir mais uma cidade mineira se afundar na lama. Entretanto, desde novembro de 2017, a Vale tem um documento interno que afirma que a barragem 1 da Mina do Córrego do Feijão, em Brumadinho, tinha uma chance de colapso. Outro documento semelhante foi expedido em 2018.
As chuvas no Rio de Janeiro. Talvez uma das cidades mais previsíveis quando o assunto é a meteorologia. Os maiores volumes de chuva acontecem nos meses de janeiro, fevereiro e abril, pelo menos, desde 2010. Em 2017, quando começou a valer o novo mandato de Marcelo Crivella na gestão da Prefeitura, dos R$ 342 milhões disponíveis naquele ano para programas de combate às enchentes e contenção de encostas, o prefeito gastou apenas R$ 41 milhões. No ano seguinte, o recurso foi maior e chegou a R$ 388 milhões, mas a prefeitura gastou menos da metade: R$ 125 milhões. Este ano, ainda não houve gastos com o setor.
Os meninos do Flamengo. Este episódio retratou o lado sombrio do futebol brasileiro que poucos conheciam. Segundo o Corpo de Bombeiros e a Defesa Civil do Rio de Janeiro, as instalações atingidas pelas chamas não tinham o Certificado de Aprovação. Enquanto o módulo destinado aos atletas das categorias de base recebia ajustes finais para autorização e acomodações, os garotos com idades entre 14 e 17 anos ficavam alojados em uma estrutura provisória de contêineres. Peritos avaliam as causas do incêndio. Inicialmente, trabalham com a hipótese de curto-circuito no ar condicionado de um dos quartos.
Mortes causadas por elementos diferentes, mas com a mesma essência. Marcadas pela negligência de quem administra os cenários, demora na condenação dos culpados e não oferece respostas satisfatórias.
Histórias perdidas para serem escritas e jamais esquecidas.
